Heróis

Foi há quase uma semana que a cantora irlandesa Sinéad O’Connor publicou um vídeo nas redes sociais que deixou o mundo da música num verdadeiro estado de alerta. Nele, a voz por detrás de “Nothing Compares 2 U” surge sozinha no seu apartamento em Nova Jérsia, com uma postura frágil e num estado visivelmente preocupante, e é entre muitas lágrimas e pausas que descreve o ‘inferno pessoal’ que tem vivido nos últimos anos. A artista diz-se abandonada pela família, e revela que as lutas que tem travado contra a sua depressão tornaram-se mais fortes do que aquilo que ela consegue suportar. Diz ainda debater-se com pensamentos suicidas diariamente, e assim sendo todo o vídeo se manifesta como um enorme pedido de ajuda.

O apoio dos fãs não tardou a se fazer ouvir, tendo milhares de pessoas partilhado mensagens de encorajamento e desejos de que ela receba o apoio médico de que necessita, meras horas após o vídeo ter sido publicado. Também outros músicos se pronunciaram acerca do assunto, com especial destaque para Fiona Apple: também ela gravou um pequeno vídeo a partir da sua casa, onde se referiu a Sinéad como ‘a sua heroína’ numa tentativa de fornecer auxílio. “Eu não quero que te sintas assim,” começou por confidenciar. “Queria poder estar aí e ser útil para ti de qualquer maneira. Só quero dizer que eu sou tua amiga e que tu és a minha heroína.”

Penso que não é uma má ideia dar continuidade à iniciativa levada a cabo pela Fiona Apple e dizer que, também para mim, a Sinéad O’Connor é uma heroína. É, sem qualquer dúvida, uma heroína por ter tido a coragem e força de vontade para se mostrar ao mundo e clamar por socorro, perante uma doença que tem uma cruel capacidade de provocar o silenciamento. Por querer, mais do que nunca, estar viva, perante um agente que consegue despir essa vontade de qualquer um. A própria Fiona também o é. É-o por ter feito o que fez e dito o que disse com um coração tão doce e humilde. Muitas vezes desconsidera-se ou subestima-se o poder que as palavras podem ter. Mas, na hora certa, um pequeno elogio ou incentivo pode ser a maior prenda que se possa dar.

Dito isto, e já que estamos no tópico de heróis… se qualquer amigo ou amiga está a ler neste momento, aquilo que tenho a dizer é: vocês também são os meus heróis. Talvez haja quem pense que manifestações de gratidão como esta não passam de lamechices. Mas se temos quem verdadeiramente nos inspire, por que haveríamos de ficar calados? E é quase trágico que tenha sido necessário algo tão devastante como o vídeo da Sinéad O’Connor para perceber isto mais do que nunca, mas a lição foi aprendida.

Desculpem-me, amigos e amigas, por não vos mencionar aqui um por um – não quero correr o risco de magoar a vossa privacidade ao incluir os vossos nomes neste texto sem o devido consentimento. Mas gostava que vissem o quanto me inspiram a cada dia, simplesmente sendo vocês mesmos, e o quanto me ajudam com as minhas próprias lutas – por mais que nem saibam ou se apercebam. Alguns de vocês já me conhecem há anos sem conta e são os meus confidentes; alguns apenas há meses entraram na minha vida, e talvez por isso ainda não tenhamos conversado tanto quanto o desejado, mas (se também for do vosso agrado) espero que tenhamos o tempo e as oportunidades para mudar isso. E saibam que de nenhum modo são menos importantes para mim.

E se ainda cá estiverem, mais uma coisa vos queria contar antes de se irem embora. Se alguma vez chegar o dia em que o vosso sofrimento for idêntico ao da Sinéad, rogo-vos que lutem para ter a mesma coragem que ela tem demonstrado. Se pensarem que nenhum contributo dão a quem ou o que quer que seja, ou se apenas quiserem algo tão simples como saber se são uma das fontes de inspiração mencionadas e de que maneira o são… por favor, falem comigo. Deixem-me contar-vos. Deixem-me dizer-vos por que motivo são, de facto, especiais. Terei todo o gosto em fazê-lo. Falem comigo. Ou não falem comigo se não quiserem, mas falem com alguém. Não se escondam.

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